A organização criminosa aplicava golpes por meio de vídeos com deepfakes que simulavam celebridades — entre elas Gisele Bündchen, Angélica Huck, Juliette, Maísa e Sabrina Sato
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou, nesta quarta-feira (1º), a Operação Modo Selva, coordenada pela Delegacia de Polícia de Investigação de Cibernéticas Especiais (DICESP) e pela DERCC, para cumprir 26 ordens judiciais — entre elas 7 prisões preventivas e 9 mandados de busca e apreensão em cinco estados (RS, SC, PE, SP e BA).
Segundo a investigação, a organização criminosa aplicava golpes por meio de vídeos com deepfakes (síntese de imagem e voz por IA) que simulavam celebridades — entre elas Gisele Bündchen, Angélica Huck, Juliette, Maísa e Sabrina Sato — endorsando produtos inexistentes das marcas Principia e Farm. O caso que desencadeou as apurações envolveu uma vítima que pagou R$ 44,57 (taxa de frete) por um “kit antirrugas grátis”.
A delegada Isadora Galian, responsável pelo caso, afirmou que o que parecia ser um estelionato de baixo valor revelou uma estrutura sofisticada: criação de deepfakes por redes generativas adversariais; divulgação massiva via perfis falsos no Facebook e Instagram (um perfil-chave usava o nome fictício “Dra. Bianca Oliveira” e conexão por VPN americana); sites falsos que capturavam dados e pagamentos via PIX; e complexa engenharia de lavagem de dinheiro por empresas-fantasma e contas de “laranjas”, inclusive de idosas de 80 e 84 anos.
A investigação aponta que o grupo movimentou mais de R$ 20 milhões e exibiu luxo nas redes sociais — Porsche Cayenne S, Range Rover Velar, BMW 430i e viagens de helicóptero. Foram ainda identificadas práticas para burlar verificações bancárias (um quadro branco com as palavras “DEEP FAKE” e “K.Y.C” foi apreendido em vídeo gravado por investigados). Os criminosos também criaram uma plataforma falsa de apostas (bets) para ampliar a captação de recursos.
Medidas cautelares determinadas pela Justiça incluem o sequestro e indisponibilidade de 10 veículos e o bloqueio de 21 ativos, investimentos, contas bancárias e carteiras de criptoativos, em valores que podem chegar a R$ 210 milhões conforme as diligências avançam.
A corporação ressalta que muitos lesados não registram ocorrência por se tratar de valores baixos (R$ 20–100), o que dava ao grupo “imunidade estatística” para operar em grande escala. A operação segue em andamento e investiga agora ramificações, responsáveis pela infraestrutura técnica e possíveis vítimas ainda não identificadas.
Para denúncias ou informações sobre possíveis vítimas, a Polícia Civil orienta procurar a DERCC ou a delegacia local. (Renan Isaltino)