Pesquisa mostra que bebês expostos a alérgenos caninos têm quase 50% menos chance de desenvolver a doença
Crescer em casas com cães pode reduzir pela metade o risco de asma infantil. É o que aponta uma nova pesquisa, apresentada recentemente no Congresso da Sociedade Respiratória Europeia, em Amsterdã, que ocorre até esta quarta-feira (1º).
O estudo acompanhou mais de 1.000 bebês no Canadá. Pesquisadores do Hospital for Sick Children, em Toronto, coletaram amostras de poeira das casas e analisaram a presença de diferentes alérgenos, como o Can f1, uma proteína encontrada na pele e saliva dos cães. Depois, acompanharam o desenvolvimento das crianças até os cinco anos de idade.
Aos cinco anos, cerca de 7% das crianças avaliadas foram diagnosticadas com asma. Mas os bebês que tiveram maior contato com o alérgeno canino apresentaram um risco 48% menor de desenvolver a doença em comparação aos demais.
Essas crianças também tiveram melhor função pulmonar, medida pelo volume expiratório forçado em um segundo (VEF1) – um teste que mostra quanto ar a pessoa consegue soltar dos pulmões após uma inspiração profunda.
Jacob McCoy, autor do estudo, acredita que a descoberta pode ajudar a compreender como os fatores ambientais influenciam a saúde.
“As crianças passam a maior parte do tempo em ambientes fechados. Queríamos entender como os alérgenos domésticos podem influenciar no desenvolvimento da asma. Identificamos que, no caso dos cães, há um efeito protetor”, disse ele ao jornal britânico The Telegraph.
Exposição precoce faz a diferença
Os pesquisadores dizem que esse efeito protetor foi ainda mais forte em crianças com predisposição genética para dificuldades respiratórias. Já os alérgenos de gatos (Fel d1) e as endotoxinas bacterianas não apresentaram benefício semelhante.
Ainda não está claro por que os cães têm esse impacto positivo. A hipótese é que a exposição precoce possa modificar o microbioma nasal – a comunidade de micróbios que vive no nariz – ou atuar diretamente no sistema imunológico.
McCoy alerta que o efeito só aparece quando o contato ocorre nos primeiros meses de vida. Em crianças que já desenvolveram sensibilidade a alérgenos caninos, a convivência pode piorar os sintomas da asma.
Especialistas pedem cautela
Erol Gaillard, professor da Universidade de Leicester e presidente do grupo de especialistas em asma pediátrica da Sociedade Respiratória Europeia, disse que os resultados são promissores, mas ainda preliminares.
“A asma é a condição crônica mais comum na infância e uma das principais causas de internação hospitalar. Este estudo sugere um efeito protetor da exposição precoce aos cães, mas precisamos de mais pesquisas para confirmar”, disse.
Sarah Sleet, diretora executiva da Asthma and Lung UK, instituição de caridade voltada para saúde respiratória, lembra que, no passado, recomendações pediam que famílias retirassem animais de casa para reduzir o risco de crises respiratórias.
“Agora, vemos indícios de que um cachorro pode até ajudar na prevenção. Mas é fundamental aprofundar os estudos para entender por que isso acontece”, afirmou ela ao The Telegraph.
Para os pesquisadores, os resultados abrem caminho para novas formas de prevenção da asma. No futuro, os médicos podem até desenvolver tratamentos que imitem os efeitos protetores da exposição precoce sem que as famílias precisem ter cães em casa.
Perguntas e Respostas
Qual é a principal conclusão do estudo sobre cães e asma infantil?
Crescer em casas com cães pode reduzir pela metade o risco de asma infantil, segundo uma pesquisa apresentada no Congresso da Sociedade Respiratória Europeia.
Como foi conduzido o estudo?
O estudo acompanhou mais de 1.000 bebês no Canadá, onde pesquisadores coletaram amostras de poeira das casas para analisar a presença de alérgenos, como o Can f1, uma proteína encontrada na pele e saliva dos cães. As crianças foram acompanhadas até os cinco anos de idade.
Quais foram os resultados em relação ao diagnóstico de asma?
Aos cinco anos, cerca de 7% das crianças avaliadas foram diagnosticadas com asma. Os bebês que tiveram maior contato com o alérgeno canino apresentaram um risco 48% menor de desenvolver a doença em comparação aos demais.
Como o contato com alérgenos caninos afetou a função pulmonar das crianças?
As crianças que tiveram contato com alérgenos caninos também apresentaram melhor função pulmonar, medida pelo volume expiratório forçado em um segundo (VEF1).
Qual é a opinião do autor do estudo sobre os resultados?
Jacob McCoy, autor do estudo, acredita que a descoberta pode ajudar a entender como fatores ambientais influenciam a saúde, destacando que o contato com alérgenos domésticos pode ter um efeito protetor.
O efeito protetor dos cães é o mesmo para outros alérgenos?
Os pesquisadores observaram que o efeito protetor foi mais forte em crianças com predisposição genética para dificuldades respiratórias, enquanto alérgenos de gatos e endotoxinas bacterianas não apresentaram benefícios semelhantes.
Por que os cães podem ter um impacto positivo na saúde respiratória?
Ainda não está claro por que os cães têm esse impacto positivo, mas a hipótese é que a exposição precoce possa modificar o microbioma nasal ou atuar diretamente no sistema imunológico.
Qual é a recomendação em relação ao contato com cães em crianças?
McCoy alerta que o efeito protetor só aparece quando o contato ocorre nos primeiros meses de vida. Para crianças que já desenvolveram sensibilidade a alérgenos caninos, a convivência pode piorar os sintomas da asma.
Qual é a opinião de especialistas sobre os resultados do estudo?
Erol Gaillard, professor da Universidade de Leicester, considera os resultados promissores, mas ainda preliminares, ressaltando a necessidade de mais pesquisas. Sarah Sleet, da Asthma and Lung UK, observa que as recomendações mudaram, sugerindo que cães podem ajudar na prevenção da asma, mas também enfatiza a importância de aprofundar os estudos.
Quais são as implicações futuras dos resultados do estudo?
Os resultados abrem caminho para novas formas de prevenção da asma, com a possibilidade de que médicos desenvolvam tratamentos que imitem os efeitos protetores da exposição precoce a cães, sem que as famílias precisem ter animais em casa.
Fonte: R7
Foto: Mali Desha/Unsplash