Neste sábado (9), completa-se um ano do trágico acidente aéreo envolvendo a Voepass em Vinhedo, que resultou na morte de 62 pessoas. O desastre expôs sérias deficiências na manutenção das aeronaves da companhia e evidenciou a sobrecarga de trabalho imposta aos pilotos. No mesmo dia, familiares de todas as vítimas devem se reunir pela primeira vez na cidade onde a aeronave caiu. A programação prevê atos ecumênicos, homenagens e momentos de reflexão. São esperadas mais de 400 pessoas para os eventos, que marcam a memória das vidas perdidas e luta por justiça.
A investigação conduzida pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) ainda está em andamento e busca esclarecer as causas da queda do voo 2283. A aeronave ATR-72-500, de matrícula PS-VPB, caiu no quintal de uma residência no dia 9 de agosto de 2024. Embora o laudo final não tenha sido divulgado, já se delineia um cenário preocupante: a ausência de uma fiscalização mais rigorosa por parte da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) pode ter sido um fator determinante para a tragédia.
Em resposta ao acidente, a Anac lançou a chamada “Operação Assistida”, com o objetivo de realizar uma fiscalização ampla e detalhada das operações e procedimentos de manutenção da Voepass, legalmente registrada como Passaredo Transportes Aéreos S.A. A ação também abrangeu a MAP Linhas Aéreas e a organização de manutenção certificada da companhia.
Entre agosto e dezembro de 2024, a agência realizou uma série de inspeções: 9 fiscalizações na base de manutenção em Ribeirão Preto, 12 em aeroportos onde a companhia operava, 41 fiscalizações de rampa – feitas durante embarques e desembarques – e 16 voos com inspetores a bordo.
Essas ações revelaram um cenário alarmante: mais de 2.600 voos foram realizados em condições irregulares. As inspeções apontaram uma sucessão de falhas graves e recorrentes, que colocavam em risco direto a segurança das operações. Entre os problemas identificados estavam danos estruturais sem monitoramento, atrasos na manutenção sem justificativa técnica, e o uso indevido de manuais para encobrir falhas.
Casos específicos chamaram atenção dos fiscais. Uma das aeronaves (PR-PDW) apresentava trincas na junção entre a asa e a fuselagem sem qualquer registro técnico. Também foram encontrados danos na fuselagem e em componentes críticos, como o “jackpot cover”, além do uso inadequado de normas para justificar falhas em sistemas essenciais. Outro ponto crítico foi o uso indevido do sistema de degelo (de-icing), com diversas infrações ligadas à manutenção inadequada dos “boots” de degelo — justamente o sistema que falhou no voo PS-VPB.
Mesmo diante dessas constatações, a Anac demorou quase dez meses para tomar uma medida definitiva. O relatório da agência aponta falhas no SASC (Sistema de Análise e Supervisão Continuada) da Voepass, ferramenta obrigatória para o monitoramento e correção precoce de falhas operacionais e de manutenção.
Como resultado, a Voepass foi autuada e recomendou-se a aplicação de sanções, incluindo multa e suspensão ou cassação de seu certificado de operação, citando o histórico de reincidência nas infrações.
Apesar das sanções e da gravidade dos fatos, documentos mostram que o proprietário da Voepass, José Luiz Felício Filho, tentou retornar ao setor por meio de outra empresa — tentativa que acabou frustrada pelas autoridades.
Fonte: R7
Foto: Secretaria de Segurança de São Paulo/Divulgação









