Agenda inclui reuniões com parlamentares americanos, empresários e especialistas em comércio internacional
Uma delegação de oito senadores inicia nesta segunda-feira (28) uma série de compromissos para buscar a reaproximação com os EUA (Estados Unidos da América), em meio ao agravamento das tensões comerciais após o anúncio de novas tarifas contra produtos brasileiros
As novas taxas passam a valer na sexta-feira (1º) e já afeta setores como o agronegócio e da aviação. A agenda inclui reuniões com parlamentares norte-americanos, empresários, especialistas em comércio internacional e representantes de organismos multilaterais, mas não há previsão de encontros com autoridades americanas.
Segundo os parlamentares, o foco é demonstrar a disposição do Legislativo brasileiro em fortalecer a interlocução bilateral e construir pontes institucionais em resposta ao cenário de incertezas.
O grupo defende que os canais técnicos e diplomáticos com os EUA permaneçam ativos, mas que sejam acompanhados de uma articulação política em alto nível, como forma de demonstrar disposição ao diálogo e à construção de soluções de longo prazo.
Segundo o presidente da comissão, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), a missão tem caráter suprapartidário e se trata de uma resposta institucional a uma crise que afeta empregos, exportações e investimentos em setores estratégicos da economia. “Preservar empregos. Este é o nosso norte”, afirmou o senador. “Não viemos aqui para confrontar. Viemos para conversar”, disse.
Setores em alerta
Exportadores brasileiros de diversos setores já sentem os impactos antes mesmo da data. O setor de pescado, por exemplo, afirma que o comércio com os EUA representa cerca de 70% do destino dos produtos exportados.
Em uma carta divulgada na semana passada, a Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescado) afirmou que, com as novas taxas, estima-se que cerca de R$ 300 milhões em produtos estejam parados entre pátios portuários, embarcações e unidades industriais.
Outro setor que já sente os efeitos, mesmo antes da vigência oficial das tarifas, é o industrial. O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Claudio Bier, afirma que algumas empresas têm até 95% das operações voltadas para o mercado norte-americano.
“Temos empresas de madeira que exportam até 95% da produção para os Estados Unidos. Algumas vão fechar, outras já deram férias coletivas. Hotéis que recebiam importadores americanos estão vazios porque os compradores não vieram. O impacto já é real”, declarou.
Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, alerta que o cenário pode piorar caso o Brasil adote medidas retaliatórias.
“Se houver retaliação, haverá aumento de custo para tudo o que é importado dos EUA. Ou teremos que comprar de outras origens, muitas vezes em condições piores ou mais caras. E ainda há o risco de tréplica: o Brasil sobe tarifas aqui e os EUA sobem mais lá”, explicou.
Carne também é afetada
Outro setor já impactado por tarifas é o de carnes. Em somente três meses, as exportações brasileiras para os Estados Unidos caíram 80%. Em julho, foram exportadas somente 9.700 toneladas, contra mais de 47.800 toneladas em abril, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
As novas tarifas norte-americanas preocupam produtores e exportadores brasileiros. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) avalia que as perdas decorrentes das tarifas unilaterais podem chegar a R$ 175 bilhões nos próximos dez anos. Isso representa uma redução do PIB brasileiro a longo prazo de 1,49%. Caso o Brasil imponha tarifas de 50% lineares aos produtores norte-americanos, o impacto seria maior e chegaria a R$ 259 bilhões, com redução do PIB de longo prazo de 2,21%.
Agenda
Segunda-feira (28)
- 8h30* — Reunião na Residência oficial da Embaixadora do Brasil em Washington
- 13h* — Reuniões com lideranças empresariais e representantes do Brasil-U.S. Business Council — Sede da U.S. Chamber of Commerce
Terça-feira (29)
- A agenda do dia envolve compromissos estratégicos com autoridades norte-americanas.
Quarta-feira (30)
- 08h30* — Americas Society / Council of the Americas
- 10h15* — Coletiva de imprensa da missão oficial
*Horários no fuso local de Washington (GMT-4), uma hora a menos que Brasília
Diplomacia como saída
Diante do cenário, especialistas e autoridades defendem o caminho da negociação.
A economista Carla Beni, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), destacou a tradição diplomática do Brasil. “Mesmo com a Lei da Reciprocidade, o primeiro passo é o diálogo. O segundo, acionar organismos internacionais. E só então pensar em retaliações”, disse à Record News.
Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, reforça: “Bater de frente com os EUA seria um desastre total.”
O professor Hugo Garbe lembra que o Brasil depende mais economicamente dos EUA do que o inverso. “Não temos estrutura para um embate direto. A diplomacia precisa ser estratégica e focar na redução das tarifas.”
Para o mestre em finanças Hulisses Dias, da Universidade de Sorbonne, qualquer sinal de insegurança pode afastar investidores estrangeiros. “É preciso evitar retaliações diretas. O ideal seria buscar medidas que pressionem setores estratégicos americanos sem prejudicar a economia brasileira.”
Senadores
A delegação é composta por oito senadores:
- Nelsinho Trad (PSD-MS) — presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) e líder da missão;
- Tereza Cristina (PP-MS) — ex-ministra da Agricultura e vice-presidente da CRE;
- Jaques Wagner (PT-BA) — líder do governo no Senado;
- Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) — vice-presidente do Grupo Parlamentar Brasil–Estados Unidos e ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações;
- Rogério Carvalho (PT-SE) — líder do PT no Senado;
- Carlos Viana (Podemos-MG);
- Fernando Farias (MDB-AL); e
- Esperidião Amin (PP-SC).
Fonte: R7
Foto: Reprodução/Instagram/@astropontes/ 27.7.2025