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Pará, sede da COP30, é o segundo estado que mais desmatou em 2024

Mesmo sendo escolhido para sediar a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) em 2025, o Pará segue entre os campeões de desmatamento no Brasil. De acordo com dados do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), o estado registrou 1.260 km² de floresta derrubada em 2024 — o maior número da amazônia e um aumento de 3% em relação ao ano anterior. É o nono ano consecutivo em que o Pará lidera o ranking regional da devastação florestal.

Pesquisadora do Imazon, Larissa Amorim explica que o cenário reflete problemas estruturais. “Grandes áreas de floresta ainda são extremamente vulneráveis, principalmente aquelas que não possuem destinação definida, tornando-se alvos frequentes de grileiros.”

Entre as áreas mais atingidas, a Terra Indígena Cachoeira Seca, nos municípios de Altamira, Placas e Uruará, foi a mais desmatada em 2024, com perda de 14 km² de floresta — um crescimento de 56% em relação a 2023.

A APA (Área de Proteção Ambiental) Triunfo do Xingu, nos municípios de Altamira e São Félix do Xingu, lidera entre as unidades de conservação, com 51 km² desmatados, o equivalente a mais de 5.000 campos de futebol.

Altamira e São Félix do Xingu estão entre os principais focos da devastação no estado e aparecem com frequência nos rankings nacionais de degradação ambiental.

Para Amorim, a realização da COP30 no Pará pode representar uma oportunidade de pressionar por políticas públicas mais efetivas de combate ao desmatamento e de valorização dos povos da floresta. Mas, até lá, o Pará terá que mostrar que está disposto a enfrentar seus gargalos estruturais.

Pará lidera conflitos por terra

A devastação ambiental no Pará caminha lado a lado com os conflitos fundiários. Segundo o relatório Conflitos no Campo Brasil 2024, divulgado pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), o número de ocorrências por disputa de terras no estado aumentou 38% no último ano.

Para o coordenador da CPT no Pará, Francisco Alan Santos, o índice de desmatamento poderia ser menor se houvesse maior presença e atuação do estado nas regiões mais críticas.

“Apesar de alguns números indicarem redução, há uma realidade paralela em áreas que deveriam ser monitoradas. O governo estadual também precisa assumir sua responsabilidade nesse cenário.”

Santos também denuncia articulações políticas que tentam enfraquecer os órgãos de fiscalização.

“Houve uma frente de parlamentares ligados ao empresariado que se mobilizou para impedir a atuação dos órgãos de controle. Isso cria um ambiente de impunidade e estimula ainda mais a ocupação irregular e o desmatamento.”

Dados do MapBiomas

O mais recente Relatório Anual de Desmatamento no Brasil, produzido pelo MapBiomas, confirma que o Pará foi o segundo estado que mais desmatou em 2024, atrás apenas do Maranhão. Apesar de ter registrado uma queda de 15% na comparação com o ano anterior, o estado segue concentrando sete dos dez municípios com maior índice de devastação do país.

O levantamento destaca ainda que, pela primeira vez desde 2019, a amazônia deixou de liderar o ranking nacional de supressão de vegetação nativa, sendo ultrapassada pelo cerrado. Ainda assim, o bioma amazônico permanece como o segundo mais desmatado do Brasil, com 30,4% de vegetação nativa suprimida em 2024.

Larissa Amorim, que também integra a equipe Amazônia do MapBiomas, ressalta: “Apesar da redução de 17% no desmatamento da amazônia em relação a 2023, a situação ainda é extremamente preocupante, principalmente para comunidades tradicionais que vivem da floresta em pé. O Pará, mesmo com queda percentual, foi o segundo estado que mais desmatou no país.”

Ela reforça a importância de atenção especial às áreas protegidas. “A APA Triunfo do Xingu, localizada entre Altamira e São Félix do Xingu, lidera o ranking de desmatamento entre as unidades de conservação. Essas regiões continuam sendo epicentros da devastação ambiental.”

 

Fonte: R7

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil – Arquivo

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