O Dia Internacional da Conscientização sobre a Epilepsia, conhecido como Dia Roxo, comemorado nesta quarta-feira (26), destaca a importância do aumento de pesquisas sobre a doença. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a doença acomete cerca de 2% da população brasileira e cerca de 50 milhões de pessoas no mundo.
Neurologista e secretária-geral da Liga Brasileira de Epilepsia, Taissa Ferrari Marinho, explica que, apesar disso, existem poucos estudos epidemiológicos de pacientes com a doença no Brasil.
“Os dados sobre a prevalência da doença são divergentes (de 1,3 a 18,6 pessoas com a doença a cada mil habitantes no Sudeste até 294,8 doentes por mil habitantes na região Sul) o que reforça a necessidade de uma avaliação epidemiológica adequada da prevalência de epilepsia no Brasil”, avalia.
A epilepsia é uma doença neurológica muito comum, mas falta conhecimento da população sobre suas características, como os sintomas das crises, as causas e os tratamentos.
Marinha afirma que a falta de conhecimento leva a um preconceito contra as pessoas que convivem com a doença.
“A importância de termos um dia voltado para a conscientização da epilepsia é fundamental para aumentar o conhecimento e a compreensão sobre essa condição e com isso reduzir o estigma que gera discriminação e sofrimento para os indivíduos afetados”, defende a especialista.
Segundo ela, essa etapa de conscientização é fundamental inclusive para as pessoas identificarem uma crise e saberem como agir. E a conscientização da epilepsia também visa apoiar esses pacientes, ajudando-os a enfrentar as barreiras sociais, emocionais e cognitivas decorrentes da doença.
“Em resumo, o Dia de Conscientização da Epilepsia é uma ferramenta importante para quebrar barreiras, aumentar o conhecimento e garantir que as pessoas afetadas por essa condição recebam o apoio e o respeito que merecem, tendo assim, uma melhor qualidade de vida”, disse Marinho.
A especialista cita que ainda é preciso avançar em vários aspectos.
“Precisamos de mais educação básica, desde ensinar como são os primeiros socorros de uma pessoa tendo uma convulsão (veja abaixo), até a realização de políticas públicas para o auxílio desses pacientes. Necessitamos também, de mais incentivo a pesquisas sobre o tema, o que pode levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para a doença”, observa.
Uma história estigmatizada
Taissa cita que a epilepsia foi uma doença estigmatizada ao longo da história. Na antiguidade, por exemplo, esteve associada a forças sobrenaturais, loucura, castigos divinos. As pessoas com epilepsia eram frequentemente marginalizadas, chegando a ser excluídas da sociedade.
“Alguns tratamentos eram baseados em crenças e rituais, e não na medicina. Hoje, felizmente, houve um grande avanço no entendimento da epilepsia. A ciência conseguiu identificar várias causas e mecanismos fisiopatológicos associados à doença, e com isso, é possível tratá-la de forma eficaz na maioria dos casos”, explica.
No entanto, a falta de conhecimento ainda gera o surgimento de alguns mitos a respeito da doença.
“A epilepsia ainda é um desafio para muitas pessoas, mas a sociedade tem se tornado mais informada, inclusiva e compreensiva em relação a ela”, continua.
Claro, Marinho lembra que o estigma pode persistir em algumas áreas. “Mas a conscientização e a educação através de projetos, pesquisas e ações das entidades voltadas para epilepsia no Brasil e no mundo, estão ajudando a mudar a forma como as pessoas veem e tratam aqueles que têm epilepsia. Isso é um grande progresso comparado ao que acontecia no passado”, avaliou.
O que fazer diante de uma crise?
A especialista orienta, por exemplo, que “a pessoa que apresentou uma primeira crise epiléptica ou apresentou um sinal ou sintoma com suspeita de crise, deve procurar um médico neurologista para investigação necessária”.
Taissa também explica como agir diante de uma crise. “A Associação Brasileira de Epilepsia e a Liga Brasileira de Epilepsia criaram o Protocolo CALMA, um protocolo que auxilia nos primeiros socorros em caso de crises convulsivas.
O protocolo CALMA traz algumas orientações que podem ajudar diante de uma crise”, explica. Veja as orientações:
- Coloque a pessoa de lado, com a cabeça elevada, para que ela não se sufoque com a saliva;
- Apoie a cabeça da pessoa para proteção em algo macio;
- Localize objetos que possam machucar a pessoa e afaste-os;
- Monitore o tempo. Caso a crise dure mais que 5 minutos ou aconteça outra logo após a primeira, ligue para o Samu (192);
- Acompanhe a pessoa até ela acordar. Em caso de ferimentos ou se for a primeira crise, ligue para o Samu (192).
“Se você tem alguém próximo com epilepsia, é bom saber se ela tem algum plano de cuidados específicos e se está usando medicação. Cada pessoa pode reagir de maneira diferente durante uma crise, e as ações podem variar de acordo com o tipo de epilepsia”, pontua.
Tratamentos pelo SUS
Segundo o Ministério da Saúde, o SUS oferece tratamento integral e gratuito para os casos de epilepsia, desde diagnóstico até o acompanhamento e tratamento necessários.
A pasta explica que o tratamento começa, preferencialmente, na atenção primária, por meio de uma das Unidades Básicas de Saúde e caso haja necessidade o médico pode encaminhar o paciente para a alta complexidade.
A pasta reforça que existem mais de 25 estabelecimentos habilitados na alta complexidade em Neurologia/Neurocirurgia com o serviço/classificação de Investigação e Cirurgia de Epilepsia no Brasil.
Fonte e foto: R7