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De olho em 2026, Lula dá posse a Guilherme Boulos na Secretaria-Geral nesta quarta-feira (29)

Boulos assume o lugar de Márcio Macêdo; mudança foca eleição de 2026, porque petista quer se reaproximar de movimentos sociais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva empossa nesta quarta-feira (29) o novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos. Deputado federal pelo PSOL-SP, Boulos vai assumir o lugar de Márcio Macêdo. A pasta é responsável pela articulação do governo com movimentos sociais.

A troca foi anunciada por Lula na semana passada, antes de embarcar para o giro pela Ásia. A cerimônia de posse será no Palácio do Planalto.

Macêdo é o 11º ministro a sair do governo. O R7 apurou que a mudança mira as eleições do próximo ano. Lula quer reaproximar o governo da militância para estreitar os laços entre a gestão e a “base”, em meio ao que aliados veem como um cenário de afastamento.

Outro objetivo do presidente com a alteração é aproximar o governo da juventude. Além disso, Macêdo deve disputar as eleições de 2026. Ele já foi deputado federal pelo PT-SE e estava de saída do mandato quando assumiu o ministério, em janeiro de 2023.

A decisão do petista sela um movimento iniciado ainda no ano passado. Lula criticou publicamente a gestão de Macêdo em algumas ocasiões, o que levantou a suspeita de uma eventual demissão.

No início deste ano, a saída do ministro voltou a ser veiculada, em meio a mudanças de Lula na Esplanada dos Ministérios. Macêdo será o 11º a deixar o governo petista e representa a 13ª troca entre titulares de pastas. A contagem é diferente devido a alterações internas feitas por Lula (leia mais abaixo).

‘Levar governo às ruas’ e ‘dever cumprido’

Após o anúncio da troca, Boulos agradeceu a confiança do presidente e afirmou que o foco será aproximar o governo da população.

Macêdo, por outro lado, confirmou que deixará o cargo para disputar as eleições de 2026 e afirmou sair “com o sentimento de dever cumprido”. “Entregamos tudo o que prometemos durante a campanha”, declarou.

“Minha principal missão será ajudar a colocar o governo na rua, levando as realizações e ouvindo as demandas populares em todos os estados do Brasil”, escreveu Boulos, nas redes sociais.

Em pronunciamento, o agora ex-ministro fez um balanço da trajetória ao lado de Lula e expressou gratidão ao presidente.

Macêdo destacou que todas as propostas da Secretaria-Geral ligadas à participação social “ou já foram realizadas ou estão em processo de realização” e afirmou que continuará ao lado de Lula na nova etapa política.

Perfil

Boulos foi da coordenação nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) por mais de 10 anos e mantém estreita relação com os movimentos até hoje.

Em 2022, foi o deputado federal mais votado em São Paulo, com pouco mais de 1 milhão de votos. Em 2024 e 2020, chegou ao segundo turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo, mas perdeu nas duas vezes.

No ano passado, com apoio de Lula, foi derrotado pelo atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). Boulos teve 40,65% (2.323.901 votos), contra 59,35% do oponente (3.393.110 votos).

Há cinco anos, o psolista perdeu para Bruno Covas (PSDB), morto em 2021. Boulos conquistou 40,62% do eleitorado paulistano (2.168.109 votos), e Covas, 59,38% (3.169.121 votos).

Críticas

A gestão de Macêdo no ministério foi criticada por aliados e pelo próprio presidente.

Lula reivindicava publicamente melhor atuação do ministro desde o primeiro ano de governo. As críticas ocorreram em, ao menos, três ocasiões.

Em dezembro de 2023, no Natal dos Catadores, Lula pediu “menos discurso e mais entrega” a Macêdo e cobrou dele a organização dos pedidos do grupo.

No 1º de Maio do ano passado, em meio a um evento esvaziado, o presidente chegou a dar uma bronca pública no ministro.

“Não pensem que vai ficar assim. Vocês sabem que ontem eu conversei com ele sobre esse ato e disse ‘Márcio, esse ato está mal convocado’. Nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar”, reclamou, na ocasião.

Neste ano, Lula não compareceu a eventos do 1º de Maio. Para não arriscar ir a uma cerimônia com pouco público, como ocorreu no ano passado, o petista optou por um pronunciamento em rede nacional de televisão e rádio.

Em julho de 2024, durante reunião do CIISC (Comitê Interministerial para Inclusão Socioeconômica de Catadoras e Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis), Lula cobrou maior participação de ministros em eventos do governo e pediu que Macêdo acompanhasse a presença dos colegas.

“Eu tenho muita preocupação porque a gente cria muita reunião interministerial. Eu sou informado das reuniões e nem todos os ministros participam. Às vezes, participa da primeira. Na segunda, já manda um segundo colocado [do ministério]. Na terceira, manda um terceiro colocado. Na quarta, manda um quarto colocado. Primeiro, é preciso que, quando houver reuniões, todos os ministros que fazem parte participem. E você [Márcio Macêdo] tem a responsabilidade de pegar o telefone e ligar para cada ministro”, criticou.

Apesar das reclamações públicas, Lula elogiou a realização do G20 Social, organizado por Macêdo. O evento antecedeu a Cúpula do G20 no Rio de Janeiro (RJ), em novembro do ano passado.

A iniciativa, inédita, discutiu temas prioritários, com ampla participação da sociedade civil organizada. O modelo será replicado pela África do Sul, presidente neste ano do G20 — grupo que reúne as maiores economias globais, além da União Europeia e da União Africana.

Mudanças na Esplanada

Macêdo foi o 11º titular a sair da gestão petista. O primeiro nome a deixar o governo foi Gonçalves Dias, em abril de 2023. Ele chefiava o GSI e pediu demissão após imagens do circuito de segurança do Palácio do Planalto mostrarem que ele estava no prédio quando a sede do Executivo foi palco de atos de vandalismo em 8 de janeiro daquele ano.

Em julho de 2023, a então ministra do Turismo, Daniela Carneiro, entregou o cargo, após disputas internas no partido do qual faz parte, o União Brasil.

Deputada federal, ela retornou à Câmara e atualmente é vice-líder do governo no Congresso.

Dois meses depois, foi a vez de Lula demitir Ana Moser, que comandava o Ministério do Esporte. A decisão do presidente fez parte de um movimento para aumentar o espaço do centrão no governo federal. A pasta do Esporte foi entregue ao PP.

Na mesma tacada, o petista deu o Ministério dos Portos e Aeroportos ao Republicanos e criou mais uma pasta federal na Esplanada, o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, para acomodar Márcio França, que estava à frente de Portos e Aeroportos.

Em fevereiro de 2024, Flávio Dino deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública para assumir uma vaga no STF. Ele foi substituído por Ricardo Lewandowski. Em setembro do mesmo ano, Sílvio Almeida foi demitido por Lula após denúncias de assédio sexual.

Paulo Pimenta, que comandava a Secom (Secretaria de Comunicação da presidência) saiu do governo em janeiro de 2025 após críticas de Lula à condução da comunicação do Executivo. Ele foi substituído pelo publicitário Sidônio Palmeira, responsável pela campanha eleitoral do presidente em 2022.

Em fevereiro deste ano, o petista demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde e indicou Alexandre Padilha para substituí-la. Ele era o titular das Relações Institucionais e, com a ida para a Saúde, a pasta responsável pela articulação política do governo com o Legislativo foi assumida por Gleisi Hoffmann.

Em maio, houve duas baixas na Esplanada. Carlos Lupi pediu demissão da Previdência Social em meio ao escândalo das fraudes em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social). Ele foi substituído por Wolney Queiroz, que era secretário-executivo do ministério desde o início da gestão.

Dias depois, Lula demitiu a então ministra das Mulheres Cida Gonçalves, após insatisfações do petista com a condução da pasta e denúncias de assédio moral. No lugar de Cida, Lula nomeou Márcia Lopes.

 

Fonte: R7

Foto: Ricardo Stuckert/PR – 20.10.2025

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