Após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira (9), sobre uma nova tarifa de 50% para os produtos brasileiros, o clima é de incerteza para a economia do país.
A exportação para os EUA é responsável por cerca de 12% do total que o Brasil vende para o mundo. No ano passado, o total de exportações brasileiras atingiram US$ 337 bilhões, sendo US$ 40,33 para os norte-americanos.
Caso não haja acordo ou recuo, as novas taxas devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto, e o Brasil terá a alíquota mais alta entre 22 países notificados pelo presidente dos EUA neste mês.
O valor é maior do que os 30% atualmente impostos à China — após uma briga intensa entre as duas potências mundiais — a mesma de países como África do Sul, Argélia, Bósnia e Herzegovina, Iraque, Líbia e Sri Lanka.

Com isso, o impacto não será apenas o de reduzir as exportações, mas pode inviabilizar a comercialização para o país.
A Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo expressa preocupação com a possível ampliação da alíquota de importação para produtos brasileiros.
O vice-presidente da frente, deputado Vitor Lippi (PSDB-SP), cita setores importantes da economia brasileira que seriam prejudicados, como petróleo, celulose, peças de aviões, café, soja, carnes, além de eletroeletrônicos, metalúrgica, que são grandes exportadores para os EUA.
“Esses setores podem sofrer gravíssimas consequências, e isso precisa ser o mais rapidamente revisto, porque isso pode inviabilizar essas exportações para esse país por perda de competitividade, e nós precisamos buscar uma solução negociada”, diz.
O parlamentar ainda argumenta que o Brasil não possui vantagem comercial sobre os EUA e defende que a medida pode gerar desemprego e instabilidade econômica.
“Nós compramos muito mais dos Estados Unidos do que exportamos para os Estados Unidos, portanto isso precisa ser esclarecido. Nós não levamos vantagem nenhuma. Temos 200 anos de relações comerciais saudáveis com os Estados Unidos, com muita seriedade, com muita responsabilidade. Portanto, essa medida do presidente Trump é absolutamente injustificada”, destaca o deputado.
Momento de cautela
A economista e professora da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Carla Beni observa que é uma característica comum no governo Trump ameaçar fortemente outros países e depois recuar. Então, ainda há possibilidade de a medida não ser implementada. Por isso, ela diz que o momento requer cautela.
“Ele cria um pânico geral e não implementa, ou implementa um adicional muito menor, ou acaba fazendo algumas concessões. Por exemplo, para o café, ele não vai subir, para o suco de laranja, ele não vai subir”, analisa.
O economista André Perfeito também não acredita que isso vá se concretizar. “Acho que Trump está blefando. Vamos supor que aumente 50% o preço do aço brasileiro. Imagina o impacto disso na indústria de carros nos Estados Unidos”, questiona.
Carla concorda. Para ela, a imposição de uma alíquota adicional foi uma medida completamente desproporcional e não comercial.
“Vai prejudicar os Estados Unidos, porque os produtos brasileiros que eles importam — como o próprio minério de ferro, o café e o suco de laranja —, são itens que vão aumentar muito o preço para o consumidor americano”, avalia a economista.
O economista e professor da Enap (Escola Nacional de Administração Pública) José Luiz Pagnussat enfatiza que, se for confirmada, a perda de competitividade será total.
“O impacto sobre a economia brasileira pode chegar a uma redução de 0,5% do PIB, em 12 meses, além de efeitos sobre o câmbio, inflação e emprego. Serão ainda maiores os efeitos se o Brasil seguir sua tradição de reciprocidade, ampliando a guerra comercial Brasil X EUA”, analisa.
Caminhos possíveis
André Perfeito diz que a medida surtirá efeito positivo no curto prazo, porque a demanda por produtos brasileiros deve subir, com a corrida pela compra antes de a nova tarifa entrar em vigor.
Carla aponta alternativas possíveis caso a nova taxa se concretize, como a venda para o mercado interno.
“Pode ser algo interessante, inclusive, para aumentar a nossa oferta de produtos internamente, e ele [o Brasil] também vai buscar novos parceiros comerciais”, sugere a professora da FGV.
A economista ainda acrescenta que, por mais negativa que seja, a medida fortalece o acordo do Mercosul e estimula o Brics. “De onde os Estados Unidos acabam saindo, os outros países do Brics acabam entrando. Os nossos produtos têm uma aceitação muito grande no mundo todo”, complementa.
O argumento é reforçado pelo economista Gesner Oliveira. “O Brasil tem essa vantagem de ter uma diversificação de mercado. O mercado dos Estados Unidos é importante? Claro que sim, mas a gente pode diversificar ainda mais os mercados para compensar essa medida protecionista dos Estados Unidos”, diz o especialista, que prevê impactos negativos aos EUA.
“O protecionismo restringe o comércio e as oportunidades de geração de renda. Eles vão ter mais inflação, custo de vida mais elevado, Tomar um suco de laranja vai custar mais caro, tomar um cafezinho vai custar mais caro. Em toda a indústria vai ficar mais caro.”
Busca por novos mercados
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, já disse nessa quinta-feira (10) que vai buscar novos mercados com grande potencial consumidor em resposta à taxação.
Em nota, Fávaro informou que conversou com entidades dos setores mais afetados e que vai buscar ampliar as ações já feitas durante o governo.
“Diante da ação indecente do governo norte-americano, em taxar em 50% as exportações brasileiras, já estamos agindo de forma proativa”, declarou.
Fonte: R7
Foto: Ari Dias/Governo do Paraná/Arquivo