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Chanceler brasileiro encontra secretário dos EUA e diz que Brasil pode responder a tarifaço

Reunião ocorreu em Washington nesta quarta, dia em que taxa foi oficializada por Trump; quase 700 itens ficaram de fora da alíquota

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reuniu-se nesta quarta-feira (30), em Washington, com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, para discutir a taxa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump.

O chanceler brasileiro reforçou que o Brasil pode responder à taxa dos EUA e chamou a medida de “inaceitável e descabida”.

“Reiteirei que o Brasil está aberto a dar seguimento às negociações comerciais iniciadas em 7 de março deste ano e paralisadas desde a divulgação da carta de 9 de julho [quando Trump anunciou a taxa]”, destacou Vieira a jornalistas, em pronunciamento na embaixada brasileira na capital norte-americana.

“Afirmei que o Poder Judiciário é independente no Brasil tanto como aqui [nos EUA] e não se curvará a pressões externas. Nesse sentido, o governo brasileiro se reserva o direito de responder às medidas adotadas pelos EUA”, acrescentou o chanceler.

O tarifaço, anunciado em 9 de julho, foi oficializado pela Casa Branca nesta quarta, por meio de uma ordem executiva. A medida começa a valer em 6 de agosto.

A lista, no entanto, tem quase 700 exceções, incluindo itens como suco de laranja, aviões comerciais e combustíveis (leia mais abaixo).

“Enfatizei que é inaceitável e descabida a ingerência na soberania nacional no que diz respeito a decisões do Poder Judiciário do Brasil, inclusive a condução do processo judicial no qual é réu o ex-presidente Bolsonaro”, completou Vieira.

Segundo o brasileiro, ele e Rubio concordaram “quanto à necessidade de manter diálogo para solucionar os problemas bilaterais”. “Volto hoje à noite ao Brasil e relatarei ao presidente Lula o teor das conversas que mantive nos EUA, de forma a definir as respostas do Brasil diante das medidas anunciadas hoje”, finalizou.

Entenda

A ordem executiva assinada por Trump impõe tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros comprados pelos EUA — o que eleva o total da taxa para 50%.

O texto oficializa o chamado tarifaço, anunciado pelo republicano em 9 de julho. Ao justificar a medida, Trump cita os processos judiciais enfrentados por Bolsonaro.

Além de inelegível até 2030, o ex-presidente é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.

O norte-americano destaca, ainda, uma “ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.

Suposta censura

A decisão ocorre também em resposta a políticas e condutas adotadas por autoridades brasileiras, consideradas por Trump como prejudiciais à economia norte-americana, à liberdade de expressão e às operações de empresas dos EUA no Brasil.

A Casa Branca acusa o governo brasileiro de implementar medidas que configuram uma suposta censura política, com perseguição a opositores e intimidação de plataformas digitais, e afeta diretamente interesses estratégicos dos Estados Unidos.

Negociações

Após o anúncio de Trump, em 9 de julho, Lula determinou a criação de um comitê interministerial para discutir a tarifa.

O grupo de trabalho é chefiado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Desde a criação, o comitê tem discutido com empresários e setores mais afetados pela decisão de Trump.

Exceções à taxa

Trump deixou de fora da taxa de 50% 694 itens exportados pelo Brasil aos EUA. Entre os produtos que não receberão a tarifa, estão suco de laranja, aviões comerciais, combustíveis, petróleo e minério de ferro.

Commodities brasileiras com grande fluxo comercial para os Estados Unidos, como carne bovina, café e cacau, não foram incluídas nas exceções e serão taxadas em 50%.

Café e cacau

Segundo dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), os Estados Unidos são os maiores compradores de café do Brasil — tanto do item torrado quanto do não torrado.

Apenas em junho, os EUA adquiriram 15,9% do café não torrado vendido pelo Brasil, um total de US$ 148,2 milhões.

Também no mês passado, no caso do café torrado — modalidade que inclui extratos, essências e concentrados de café —, os Estados Unidos compraram 23,4% do que foi produzido pelo Brasil: US$ 21 milhões.

Os EUA também têm participação importante na compra do cacau brasileiro. Em junho deste ano, o país foi o maior comprador de cacau em pó, manteiga ou pasta de cacau, com 42,6% de participação (US$ 22,5 milhões).

Com relação ao chocolate e a outras preparações alimentícias oriundas do cacau, os Estados Unidos (12,2%) foram o segundo maior destino no mês passado, atrás apenas da Argentina (27,2%). O valor total das compras chegou a US$ 2,4 milhões.

Carnes

A participação dos EUA no mercado brasileiro de carnes é menos significativa do que o fluxo de café e cacau.

A maior parte dos tipos de carne vendidos pelo Brasil não é comprada pelos Estados Unidos, como frangos, suínos e pescados.

O país adquire, basicamente, três modalidades — despojos comestíveis de carnes, preparados ou preservados; carne bovina fresca, refrigerada ou congelada; e outras carnes comestíveis salgadas, em salmoras, secas ou defumadas.

A participação dos EUA é maior no primeiro tipo. Os norte-americanos são os principais compradores da modalidade, com 35% do mercado, cerca de US$ 46,4 milhões.

Nas outras modalidades, os EUA são os terceiros maiores destinos dos itens, com 5,7% (US$ 75,4 milhões) e 6,6% (US$ 1,5 milhão), respectivamente.

As informações também são de junho deste ano, conforme dados do MDIC.

 

Fonte: R7

Foto: Lula Marques/Agência Brasil

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