Foram expedidos 50 mandados de busca e apreensão e 6 mandados de prisão preventiva Na manhã desta quarta-feira (12/11), a Polícia Federal, com apoio da Controladoria‑Geral da União (CGU) e da Polícia Militar do Estado de São Paulo, deflagrou a Operação Coffee Break, com objetivo de desarticular um esquema que apura supostas fraudes em licitações públicas, contratação direta ilegal, peculato, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Foram expedidos 50 mandados de busca e apreensão e 6 mandados de prisão preventiva, todos da 1ª Vara Federal de Campinas/SP, com cumprimento em São Paulo, Distrito Federal e Paraná. De acordo com a PF, foram apreendidas “grande quantia em dinheiro vivo” — embora o valor exato ainda não tenha sido divulgado. Foco na educação e nos contratos de materiais escolares A CGU informa que a investigação concentra-se em contratos para fornecimento de materiais didáticos, kits de robótica, livros paradidáticos e licenças de tecnologia para redes municipais, em especial nos municípios de Sumaré e Hortolândia (interior de SP). Em Hortolândia, por exemplo, o vice-prefeito Cafu César (PSB) foi preso durante a operação. Segundo apuração, em Sumaré também há mandados cumpridos na Secretaria de Educação, Administração e Arquivo Público — o foco são contratos firmados em 2020, sob a gestão anterior. O recorte de Limeira Na cidade de Limeira (SP), a operação também teve desdobramentos importantes. Agentes da PF cumpriram mandados na empresa Construtora MC Botion — vinculada ao ex-prefeito Mário Botion (PSD) — e em imóvel residencial dele. A Câmara Municipal de Limeira, inclusive, já havia aberto uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar um contrato de R$ 11,9 milhões assinado em maio de 2023 entre a Prefeitura e a empresa alvo da investigação — contrato este para comprar kits de robótica, livros e licenças de tecnologia. Dados na CPI apontam possível sobrepreço (kits que custaram até R$ 14 mil cada, enquanto em outras cidades os valores giravam em torno de R$ 7,8 mil). Ainda em Limeira, foi registrada apreensão de veículos pertencentes à família do ex-prefeito: agentes federais deixaram o condomínio com automóveis da família Botion. Implicações e desdobramentos A amplitude desta ação — abrangendo três estados e dois níveis de poder público (municípios e empresas fornecedoras) — mostra como investigações sobre licitações estão voltando com força no interior paulista. O setor de educação, especialmente compras de materiais escolares, é destaque nesse tipo de esquema, dada a alta rotatividade de contratos emergenciais, recursos federais e possibilidade de direcionamento. Em Limeira, o fato de haver CPI instalara na Câmara antes mesmo da operação indica que havia suspeitas locais prévias — o que reforça a dimensão política do caso. Os investigados poderão responder por vários crimes graves, incluindo fraude em licitação, lavagem de dinheiro, contratação direta ilegal, além de peculato e corrupção. O que ainda falta saber Valor total dos prejuízos aos cofres públicos — não foi divulgado pela PF até o momento. A lista completa das pessoas presas ou detidas, e quais foram os mandados de prisão efetivados (além dos seis preventivos). Quais exatamente os contratos municipais envolvidos em cada cidade, quais anos-base e empresas fornecedoras. Quais bens foram apreendidos além de dinheiro vivo — carros, imóveis, celulares, notebooks — embora haja menção genérica a “grande quantia em dinheiro vivo”. A frase-chave “Coffee Break” alude a encontros informais entre empresários e agentes públicos onde, conforme as investigações, ocorreriam negociações para direcionar contratos públicos. Este tipo de operação tem impacto direto no cotidiano: recursos que deveriam atender à educação e serviços públicos podem ter sido desviados, gerando prejuízo à população. Nota da Assessoria do ex-prefeito Mário Botion A Assessoria de Comunicação do ex-prefeito Mário Botion informa que o processo da licitação de aquisição de soluções tecnológicas educacionais, que adquiriu kits de robótica, material didático pedagógico, capacitação de professores e licença de uso de plataforma educacional, ocorrido durante sua gestão, transcorreu de forma regular e transparente, observando todos os princípios legais que regem a administração pública. A assessoria destaca que nenhum órgão de controle externo — como o Ministério Público ou o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) — apontou irregularidades na condução do processo licitatório ou na execução contratual. Segundo a nota, o processo seguiu rigorosos trâmites administrativos, com ampla publicidade e fiscalização interna, assegurando a lisura e o correto uso dos recursos públicos. A nota conclui reiterando o compromisso do ex-prefeito com a transparência e a ética na gestão pública, afirmando que o procedimento realizado pela Polícia Federal teve como objetivo apenas a coleta de documentos, não tendo sido constatado qualquer ato ilícito. Nota da Prefeitura de Limeira A Prefeitura de Limeira informou que a atual gestão não renovou, no início deste ano, o contrato com a empresa Life Educacional e não realizou em 2025 qualquer pagamento à referida empresa. A Life é alvo de apuração interna, conduzida por uma comissão de sindicância, diante de suspeitas relacionadas à aquisição de kits de robótica. Por se tratar de uma contratação realizada na gestão anterior, a administração municipal ressalta que as informações sobre a operação devem ser consultadas junto à Polícia Federal, órgão responsável pela investigação. A Prefeitura ainda esclareceu que não foi alvo de mandado de busca e apreensão durante a operação. (Renan Isaltino)