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PCC amplia rede de lavagem de dinheiro e se infiltra em diversos setores da economia paulista, revelam investigações

Em pelo menos 13 municípios paulistas, foram identificadas licitações públicas usadas para desviar recursos e lavar dinheiro do tráfico

 As investigações mais recentes do Ministério Público de São Paulo (MPSP), em parceria com a Polícia Civil e a Receita Federal, revelam que o Primeiro Comando da Capital (PCC) expandiu de forma inédita sua rede de lavagem de dinheiro, infiltrando-se em setores diversos da economia formal. A facção teria utilizado desde postos de combustíveis e fundos de investimento até lojas de brinquedos, motéis e linhas de transporte coletivo para movimentar e ocultar bilhões de reais provenientes do tráfico de drogas e de outras atividades ilícitas.

 De acordo com os levantamentos, o grupo criminoso também se valeu de áreas como a construção civil, o futebol profissional e até o mercado de criptomoedas para branquear valores de origem ilegal. Em pelo menos 13 municípios paulistas, foram identificadas licitações públicas usadas para desviar recursos e lavar dinheiro do tráfico — evidenciando o alcance da facção dentro do poder público.

 A diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol), delegada Raquel Gallinati, destacou que o perfil do crime organizado mudou.

“O crime organizado já não se esconde mais nas vielas. Ele está atrás do balcão, emitindo nota fiscal e abrindo CNPJ. Quando o Estado não acompanha essa sofisticação, enfraquece o próprio combate ao crime”, afirmou.

 A desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), reforçou a gravidade da situação:

“Após tantos anos estudando e trabalhando com organizações criminosas no Brasil, nunca presenciamos tamanha diversidade de negócios usados pelo PCC para lavagem do produto e proventos dos crimes praticados pela facção.”

Setores infiltrados pelo PCC

 Motéis – Uma apuração do MPSP e da Receita Federal identificou que o PCC utilizou ao menos 60 motéis na capital, na Grande São Paulo e no litoral para lavar dinheiro. Os estabelecimentos, registrados em nome de laranjas, movimentaram cerca de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024.

 Padarias e lojas de conveniência – A facção montou uma complexa rede de estabelecimentos com nomes e proprietários sobrepostos, usada para dificultar a identificação dos verdadeiros beneficiários. Muitos funcionavam apenas como fachadas, sem atividade econômica real.

 Postos de gasolina – A Operação Carbono Oculto, deflagrada em 28 de agosto, revelou um esquema bilionário envolvendo toda a cadeia do setor de combustíveis, da importação à revenda final. Uma rede de 1.200 postos sob controle do PCC teria movimentado R$ 52 bilhões no mesmo período.

 Fundos de investimento – Para dar aparência de legalidade aos lucros ilícitos, a facção recorreu a fundos de investimento da região da Faria Lima, principal centro financeiro do país. Segundo a Receita Federal, o grupo usou ao menos 40 fundos, com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões. Uma das instituições envolvidas, considerada um “banco paralelo” do esquema, movimentou sozinha mais de R$ 46 bilhões não rastreáveis entre 2020 e 2024.

 Transporte público – A Operação Fim da Linha, realizada em abril de 2024, revelou o envolvimento do PCC no sistema de transporte coletivo de São Paulo. As empresas Transwolff e UpBus, que receberam juntas R$ 843 milhões em subsídios municipais em 2023, tinham entre seus cotistas integrantes da facção.

 Lojas de brinquedos – Na Operação Plush, deflagrada nesta quarta-feira (22), o MPSP investiga quatro lojas de uma franquia de brinquedos, especializadas em bonecos de pelúcia, em shoppings da capital e da Grande São Paulo. Segundo as apurações, os pontos comerciais seriam usados para lavar dinheiro da facção. Uma das donas é ex-companheira de Cláudio Marques de Almeida, o “Django”, integrante do PCC que era cotista da UpBus e foi executado em um tribunal do crime em janeiro de 2022.

 As investigações seguem em andamento e, segundo o MPSP, novas operações deverão ser deflagradas nos próximos meses para identificar e bloquear o patrimônio oculto da facção.

Foto: R7

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