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Tarifas dos EUA afetam a cozinha americana; veja relação com exportação brasileira

Associação de construtores demonstra preocupação a longo prazo com o tarifaço imposto desde agosto pelos Estados Unidos

As novas tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump sobre importações de madeira, móveis e produtos derivados nos Estados Unidos já começam a preocupar consumidores e construtores, especialmente no que diz respeito a cozinhas e banheiros.

Alíquotas sobre gabinetes, lavatórios e madeira, itens essenciais para esses ambientes, devem encarecer reformas e novas construções residenciais. As tarifas entram em vigor em 14 de outubro, com reajustes previstos para 1º de janeiro de 2026.

Trump anunciou uma tarifa de 10% sobre importações de madeira, item bastante usado pelos americanos para os pisos de cômodos. Além disso, os EUA vão implementar um imposto de 25% sobre certos móveis estofados, com previsão de aumento para 30% a partir de 1º de janeiro.

Também será cobrada uma taxa de 25% sobre a importação de gabinetes de cozinha e lavatórios, alíquota que deve subir para 50% a partir de 1º de janeiro.

Hoje, eletrodomésticos fabricados com aço e alumínio, como geladeira e lava-louças, já sofrem com a cobrança de um imposto de 50%.

Segundo estimativa da Associação Nacional de Construtores de Casas (NAHB, na sigla em inglês), cerca de US$ 14 bilhões, ou 7%, de todos os bens usados em novas construções residenciais vêm de outros países, o que pode gerar atraso em projetos ou até paralisar obras em andamento.

A NAHB acredita que os custos de construir uma casa nova vão subir de forma significativa com o aumento dos preços de materiais e problemas de logística. Além disso, a confiança dos construtores já estava baixa em 2025, refletindo dificuldades financeiras e maiores custos no setor.

Tarifas Trump – Arte/R7

Valores competitivos para os EUA

De acordo com o doutor de internacionalização e estratégia João Alfredo Nyegray, do ponto de vista macro do setor habitacional, os efeitos combinados caminham na mesma direção: encarecem a construção e as reformas, especialmente em ambientes de alto consumo de madeira e de bens importados, como cozinhas, banheiros e mobiliário.

Todavia, para os economistas do Departamento de Comércio dos EUA, os valores são considerados competitivos e isso deve contribuir para a economia.

Em nota, a Associação dos Construtores teme que o preço dos produtos faça as vendas estagnarem, afundando ainda mais a chamada “crise imobiliária” no país.

A sensação descrita por eles é de que o governo não está cumprindo a agenda prometida de reduzir a inflação, reduzir as taxas de juros e ajudar a criar uma sociedade de propriedade.

Nyegray explica que dizer que o pacote tarifário pode aprofundar a chamada “crise imobiliária” é uma leitura conservadora.

“Tarifas não são a causa principal. Juros e renda disponível seguem sendo os vetores centrais da acessibilidade, mas adicionam atrito justamente onde dói, elevando o custo de construir e reformar e postergando projetos marginais em um ciclo já frágil”, explica.

Como fica o Brasil?

Para o Brasil, os desdobramentos são ambíguos, mas tendem a ser desafiadores no curto prazo.

“Os Estados Unidos são o principal mercado de destino do mobiliário brasileiro. Tarifas de 25% a 30% em móveis e de 50% em gabinetes deterioram a competitividade relativa do produto brasileiro frente a alternativas produzidas domesticamente nos EUA ou em países com arranjos produtivos geograficamente mais próximos e escaláveis”, afirma Nyegray.

Além disso, a incidência de 10% sobre madeira e derivados também afeta exportadores nacionais dessas linhas.

Para Nyegray o pacote tarifário não redefine sozinho o mercado de moradia dos EUA, mas tem reflexos multifacetados.

“As medidas intensificam uma tendência de encarecimento e fricção que, num ambiente de crédito mais caro e confiança enfraquecida, tende a alongar prazos de decisão e a adiar projetos no segmento de construção e reforma — com reflexo direto nos preços de móveis e eletrodomésticos e com efeitos colaterais relevantes para a indústria brasileira orientada à exportação”, conclui o especialista.

 

Fonte: R7

Foto: Daniel Torok/Official White House Photo

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