Relatório aponta atuação do ex-presidente e do deputado nos EUA para dificultar investigação sobre tentativa de golpe
A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, em razão da atuação do parlamentar nos Estados Unidos, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira (20).
De acordo com o documento, pai e filho teriam agido para obstruir o avanço das investigações que apuram a tentativa de golpe de Estado, na qual Jair Bolsonaro é apontado como principal réu. O relatório foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), que deve enviá-lo à PGR (Procuradoria-Geral da República). Caberá ao procurador-geral, Paulo Gonet, decidir se oferece denúncia, requisita diligências complementares ou solicita o arquivamento — hipótese considerada remota.
Reação de Eduardo Bolsonaro
Em nota publicada nas redes sociais, Eduardo afirmou que sua atuação nos Estados Unidos não teve a intenção de interferir em processos no Brasil.
“Minha atuação nos Estados Unidos jamais teve como objetivo interferir em qualquer processo em curso no Brasil. Sempre deixei claro que meu pleito é pelo restabelecimento das liberdades individuais, com foco no projeto de anistia que tramita no Congresso Nacional”, escreveu.
O parlamentar criticou a PF, questionando a ausência de investigação sobre autoridades americanas citadas nas conversas, e classificou a divulgação das conversas como tentativa de desgaste político. Ele finalizou com provocação a Alexandre de Moraes:
“Se o meu ‘crime’ for lutar contra a ditadura brasileira, declaro-me culpado de antemão”.
Pedido de asilo e documentos encontrados
O relatório da PF também revela que Bolsonaro teria preparado um pedido de asilo político na Argentina, encontrado no celular do ex-presidente, criado por sua nora. O documento de 33 páginas foi modificado pela última vez em 12 de fevereiro de 2024 e era endereçado ao presidente argentino Javier Milei. Segundo a PF, o pedido visava justificar perseguição política e possibilitar a evasão do país após a deflagração da Operação Tempus Veritatis, que identificou indícios de crimes relacionados à tentativa de golpe.
O relatório conclui que Jair Bolsonaro possuía documentos que viabilizariam sua fuga para a Argentina, visando impedir a aplicação da lei penal brasileira. (Renan Isaltino)
Foto: R7