Reunião em Campinas aponta risco de queda na arrecadação e aumento do desemprego na região, que exporta mais de US$ 5 bilhões por ano
Os prefeitos da Região Metropolitana de Campinas (RMC) se reuniram nesta quarta-feira (20), na PUC-Campinas, para discutir os impactos da tarifa de até 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump, foi o principal tema da reunião extraordinária do Conselho de Desenvolvimento da RMC.
De acordo com a Secretaria de Finanças de Campinas, cerca de 17% de tudo o que a região exporta tem como destino o mercado norte-americano. Entre 2020 e 2024, foram em média US$ 250 milhões por ano em vendas para os EUA, o equivalente a aproximadamente R$ 1 bilhão no período.
“O trabalho que apresentamos mostra, cidade por cidade, o impacto que essa taxação pode causar. É fundamental que os gestores tenham clareza do que está em jogo, porque uma redução das exportações implica queda de arrecadação e risco de desemprego”, afirmou o prefeito de Campinas e presidente da RMC, Dário Saadi.
Impacto nos municípios
O levantamento aponta que dos US$ 5,2 bilhões exportados pela região no período de 2020 a 2024, cerca de US$ 870 milhões foram destinados aos EUA. Só em 2025, as exportações da RMC somaram US$ 2,6 bilhões, dos quais US$ 422 milhões tiveram como destino o mercado norte-americano.
Segundo o estudo, 55% dos produtos exportados pelas cidades da região estão entre os itens atingidos pela taxação de 50%.
Em Santo Antônio da Posse, o impacto tende a ser ainda maior, já que mais de 80% das exportações locais vão para os Estados Unidos. O principal item é a carne, um dos produtos que sofrerá a taxação.
“A curto prazo, a grande preocupação é o desemprego. A médio prazo, a queda na arrecadação. Estamos aqui para pedir união e reforçar o apelo para que o governo federal e estadual olhem não só para as grandes cidades, mas também para os pequenos e médios municípios”, disse o prefeito da cidade, Ricardo Cortez.
Produtos atingidos
Entre os principais produtos exportados pela RMC que serão afetados pelo tarifaço estão:
- carne,
- medicamentos,
- peças e equipamentos pesados (como pás mecânicas, escavadoras e carregadoras)
Outras frentes de atuação
Além da mobilização regional, Campinas participa da Comissão Nacional de Cidades Exportadoras, que busca diálogo com o governo federal para reduzir os efeitos das tarifas. No início de agosto, prefeitos e representantes da comissão entregaram ao vice-presidente Geraldo Alckmin um documento com propostas, entre elas:
- ampliação do programa Reintegra, que devolve tributos às empresas exportadoras,
- apoio a pequenas e médias empresas,
- busca por novos mercados internacionais para compensar as perdas.
“Somos uma região exportadora, com forte presença da indústria e do agronegócio. Se as exportações caírem, vamos sentir diretamente no caixa das prefeituras e no mercado de trabalho”, alertou Dário Saadi.
Entenda o tarifaço dos EUA
O tarifaço imposto por Washington adiciona 40% às tarifas já existentes sobre produtos brasileiros, elevando a taxação a até 50%. Apesar de uma lista de quase 700 itens isentos – como aeronaves, suco de laranja, combustíveis e madeira –, a medida deve atingir em cheio setores estratégicos da economia, especialmente em regiões exportadoras como Campinas e sua RMC, composta por 20 municípios e mais de 3 milhões de habitantes.
Foto: divulgação Prefeitura de Campinas