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Tensões aumentam na América Latina com ameaça dos EUA de intervenção militar na Venezuela

O presidente venezuelano Nicolás Maduro declarou que o país está preparado para resistir a qualquer tentativa de invasão

 As recentes ameaças dos Estados Unidos de que poderiam usar forças militares contra a Venezuela provocaram forte reação de governos latino-americanos e acirraram a tensão geopolítica no continente. O risco de uma intervenção direta de uma potência estrangeira na região não ocorre desde a invasão do Panamá, em 1989.

 De acordo com informações divulgadas por agências internacionais como Reuters e CNN, o governo de Donald Trump teria autorizado o envio de cerca de 4 mil militares distribuídos em três porta-aviões para a costa venezuelana, sob o argumento de combater o narcotráfico. Fontes do Pentágono disseram à imprensa norte-americana que a movimentação é, em parte, uma “demonstração de força”, mas que poderia dar ao presidente opções para uma ação militar.

Reações na América Latina

 A possibilidade de intervenção foi criticada por governos da região. O presidente do México, Claudia Sheinbaum, defendeu a soberania nacional como princípio inegociável e afirmou que o combate ao narcotráfico deve ocorrer por meio da cooperação entre os países, e não com ações unilaterais.

 Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro alertou que uma eventual invasão poderia levar a América Latina a uma crise semelhante à da Síria, arrastando não apenas a Venezuela, mas também países vizinhos para a instabilidade.

 No Brasil, o embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, disse em comissão da Câmara dos Deputados que o deslocamento de navios militares dos EUA para perto da costa venezuelana é motivo de preocupação.
“A não intervenção é fundamental, um princípio basilar da política externa brasileira. Mesmo durante o governo militar, o Brasil nunca aceitou intervenções externas”, destacou.

Defesa e resistência

 O presidente venezuelano Nicolás Maduro declarou que o país está preparado para resistir a qualquer tentativa de invasão, convocando até 4,5 milhões de milicianos, além das Forças Armadas, para defender o território.
“Nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela ou da América do Sul. Defenderemos nossos mares, céus e terras”, afirmou.

 O governo de Caracas nega a existência do suposto Cartel de los Soles, apontado por Washington como organização de narcotráfico liderada por Maduro, e classificou as acusações como “bizarras e absurdas de um império em declínio”. Em comunicado, a chancelaria venezuelana ressaltou que as ameaças colocam em risco não apenas o país, mas toda a estabilidade da região, lembrando que a Celac declarou a América Latina e o Caribe como “Zona de Paz”.

Especialistas alertam para instabilidade

 Para o historiador e pesquisador de geopolítica Rodolfo Queiroz Laterza, qualquer ação militar dos EUA na Venezuela poderia gerar desdobramentos graves.
“É um cenário de instabilidade geopolítica que pode se espalhar pelo continente, sobretudo em países já marcados pela polarização política, como o Brasil”, avaliou.

 Laterza pondera ainda que, apesar de a Venezuela possuir forças armadas relativamente bem equipadas para seu contexto econômico, elas não teriam capacidade de dissuadir um ataque dos Estados Unidos.

Estratégia de Washington

 A Casa Branca, por meio de sua porta-voz Karoline Leavitt, afirmou que Trump está preparado “para usar todo o poder americano” contra o narcotráfico. Ela classificou Maduro como “chefe fugitivo de um cartel” e disse que ele não é reconhecido como presidente legítimo da Venezuela.

 No início deste mês, o governo norte-americano dobrou de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões o valor da recompensa por informações que levem à captura de Maduro.

 Entretanto, especialistas questionam a justificativa dos EUA. Estudo do Escritório de Washington para a América Latina (Wola) aponta que apenas 7% da cocaína que chega aos Estados Unidos passa pela rota marítima venezuelana. A maior parte do tráfico ocorre pelo Caribe Ocidental e pelo Pacífico Oriental.

Perspectivas

 Enquanto cresce a retórica de Washington contra Caracas, a crise gera uma rara aproximação entre Venezuela e Colômbia, países que vinham se estranhando devido a acusações de fraude eleitoral e perseguição política.

 A possibilidade de intervenção militar dos EUA na Venezuela, ainda não confirmada oficialmente, mantém a região em alerta e amplia as incertezas sobre a estabilidade política na América Latina. (Renan Isaltino)

Foto: R7

Fonte: Agência Brasil

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