Expectativa é de que efeito das tarifas norte-americanas na inflação brasileira seja gradual e comece a partir de agosto ou setembro
A inflação brasileira pode sentir nos próximos meses os efeitos do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos. Embora o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de julho não deva registrar impacto direto, a previsão é de que a pressão sobre os preços internos pode aumentar à medida que as mudanças no comércio exterior se consolidarem.
Segundo Hugo Garbe, doutor em economia e professor da Universidade Mackenzie, os primeiros efeitos do tarifaço devem aparecer em setores ligados a alimentos exportados, como café, carnes, pescados e frutas tropicais, além de produtos cujo preço doméstico acompanha o mercado internacional e itens impactados pela variação do câmbio.
No curto prazo, pode haver até uma queda nos preços internos, especialmente de carnes e pescados, devido ao aumento da oferta no mercado brasileiro.
Mas Garbe pontua que “se o choque tarifário piorar termos de troca e risco, o câmbio pode ajustar e reintroduzir pressão inflacionária em alimentos processados e logística”.
Inflação de julho não deve ser impactada
Os dados do IPCA de julho serão divulgados às 9h desta terça-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na avaliação de Garbe, os efeitos concretos do aumento das tarifas norte-americanas ainda não aparecerão nesse indicador, porque os preços coletados pelo IBGE foram antes da implementação do tarifaço.
“Praticamente, não terá reflexo. O pacote tarifário dos EUA entrou em vigor em 6 de agosto. Portanto, os efeitos diretos só começam a aparecer a partir de agosto/setembro e se consolidam ao longo de alguns meses”, explicou.
Na avaliação dele, o IPCA de julho captura, no máximo, expectativas: “O impacto factual começa depois”.
Essa perspectiva é reforçada pelos dados do Boletim Focus divulgados nesta segunda-feira (11), que mostram que a projeção de inflação para 2025 caiu novamente — para 5,05%, o 11º recuo semanal consecutivo — enquanto a estimativa para 2026 recuou para 4,41%.
Lista de Trump tem 694 exceções
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou de fora 694 itens da taxa de 50% sobre produtos exportados pelo Brasil. Entre os itens que não receberão a tarifa, estão suco de laranja, aviões comerciais, combustíveis, petróleo e minério de ferro.
Commodities brasileiras com grande fluxo comercial para os Estados Unidos, como carne bovina, café e cacau, não foram incluídas nas exceções e serão taxadas em 50%.
Segundo dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), os Estados Unidos são os maiores compradores de café do Brasil — tanto do item torrado quanto do não torrado.
Somente em junho, os EUA adquiriram 15,9% do café não torrado vendido pelo Brasil, um total de US$ 148,2 milhões.
Também no mês retrasado, no caso do café torrado — modalidade que inclui extratos, essências e concentrados de café —, os Estados Unidos compraram 23,4% do que foi produzido pelo Brasil, o equivalente a US$ 21 milhões.
Os EUA também têm participação importante na compra do cacau brasileiro. Em junho deste ano, o país foi o maior comprador de cacau em pó, manteiga ou pasta de cacau, com 42,6% de participação (US$ 22,5 milhões).
Com relação ao chocolate e a outras preparações alimentícias oriundas do cacau, os Estados Unidos (12,2%) foram o segundo maior destino no mês passado, atrás apenas da Argentina (27,2%). O valor total das compras chegou a US$ 2,4 milhões.
Fonte: R7
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil